quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cotidiano, Confiança, Competência e o efeito Catchup





Em tempos de Copa do Mundo, não dá muito para fugir do assunto. Vejamos uma notícia de 13 de junho, vinda da “Gazeta Press” (fonte: http://www.abril.com.br/blog/copa-do-mundo-2010/2010/06/cristiano-ronaldo-minimiza-jejum-gols-sao-como-catchup/)


Apesar de toda a badalação, o atacante Cristiano Ronaldo não marca um gol em jogo oficial pela seleção portuguesa desde a Eurocopa de 2008. Passou em branco nas sete partidas que disputou nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Mas, com bom humor e uma comparação inusitada, o astro minimizou o jejum.

“Gols são como catchup. Quando começam a sair, vêm todos de uma vez”, filosofou Cristiano Ronaldo, que espera uma recompensa divina na África do Sul. “Deus sabe quem trabalha e merece. Por isso, não estou preocupado. Continuo perfeitamente tranquilo”, garantiu...


E não é que no dia 28 Portugal faz sete gols de uma vez? E na Coréia do Norte, o time em que o Brasil ganhou sem maiores facilidades de 2 a 1! O próprio Ronaldo saiu do jejum. O catchup funcionou, afinal!

Individualmente, o catchup saiu também para Luís Fabiano, outro que estava em jejum de gols. Fez dois de uma vez, um dos quais lembrando dois gols famosos de Copa: um do Pelé, em 1958, outro, da “mano de Dios” de Maradona, em 1986. Este gol, apesar da irregularidade não marcada, foi bem bonito, e creio que não seria marcado se Luís Fabiano não tivesse ainda recobrado a confiança após o primeiro gol, pela ousadia e convicção da jogada.

Confiança ... mas não era catchup?

Cristiano Ronaldo e Luís Fabiano não haviam desaprendido a jogar, muito menos a seleção portuguesa. Mas, quando conseguiram acertar novamente, a confiança voltou e a capacidade, obstaculizada pela dúvida, pôde se manifestar livremente. E aí, as próximas tentativas são, naturalmente melhores. Superou a resistência do medo, da dúvida, da falta de confiança, as capacidades represadas podem finalmente se manifestar de forma mais intensa, como se buscasse recuperar o tempo perdido. Tal como um catchup!

Bom, e o que isso tem a ver com aprendizagem, competências, conhecimento ... ora, tudo!

Mais ou menos como o famoso CHA da Gestão de Competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), a competência de alguém, seja no futebol como na organização, é resultante do aprendizado do que é conceitualizado e do que é vivenciado. É a vivência que irá moderar o quanto o que foi incorporado em conceitos é reconhecido como verdade e boa prática. Só que a vivência, por sua própria natureza, está sujeita a questões do plano das emoções, e isto interfere nesta moderação, neste julgamento. Assim, uma vivência dita negativa no plano emocional afeta o julgamento e interfere na verdade e na boa prática, sempre ajustada, podendo embotar o pleno desempenho das competências racionalmente adquiridas e validadas na sua aplicação.

Todavia, a competência nunca deixou de existir, somente encontrou as saídas de sua manifestação “entupidas”. Na medida em que uma outra vivência no plano emocional, após outras tantas tentativas anteriores, reajustou o julgamento aos níveis anteriores, inflando novamente a confiança e retroalimentando a qualidade do desempenho, o entupimento foi “vencido” e as competências voltam a funcionar, “sedentas”, de expectativas positivas, aos borbotões.

A Moral da História é que a competência é confirmada dia a dia pela experiência, pelo cotidiano , tão bem desenvolvido pelos sociólogos Berger e Luckmann em “A Construção Social da Realidade”, modelando de forma pessoal o conhecimento existente destarte uma visão comum. Por isso o canal de manifestação deste conhecimento é a confiança; estando ela embotada, a competência não se manifesta enquanto tal entupimento não se desfaz por uma ação contrária inserida pela própria realidade cotidiana, resgatando e liberando a competência.



Portanto, assim como o efeito pigmaleão, ou o efeito placebo, ou o paradoxo de Abilene, que freqüentam textos de psicologia e comportamento organizacional há também o efeito catchpup! Aliás, não é nada novo, mas sua popularização no mundo da bola pode ajudar até a promover estudos empíricos sobre o assunto, por que não? Trabalhar a confiança dentro do cotidiano permite a competência sempre fluir, às vezes demora, mas quando flui, é o catchup. Se o empresário do Cristiano Ronaldo aproveitar, pode levá-lo para um daqueles mega-eventos de “Management”!




Américo Ramos , DSc em Administração, vinte anos de experiência profissional e acadêmica.
E-mail:
americodacostaramos@gmail.com.
Visite o blog Aprendizagem e Organização” (
http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

domingo, 13 de junho de 2010

Aprendendo e Organizando os Livros: Boletim II


Olá, pessoal, continuo aqui a seção de postagens sobre livros a respeito de temas de meu interesse e estudo.

Continuo por ora privilegiando livros nacionais, pela maior disponibilidade e facilidade, principalmente em nível introdutório. Entretanto, posso indicar também livros em inglês, que foram, em geral, bases para a elaboração dos próprios livros nacionais.

Bem, vamos lá!

GESTÃO ESTRATÉGICA DE EMPRESAS BRASILEIRAS:
Casos Resolvidos

Agrícola Bethlem
Editora Atlas

Os conceitos básicos são universais, mas a sua utilização e aplicação no mundo real não. Esta a razão de utilização de casos que refletem a realidade do meio ambiente brasileiro e do comportamento e valores dos dirigentes brasileiros de empresas brasileiras para ensinar administração e gestão estratégica.O enfoque deste livro parte desses pressupostos. O texto sustenta que cada empresa deve ser administrada da forma mais adequada às características dos seus recursos e de suas circunstâncias e que não há padrão nem receitas de sucesso nem padrão de liderança eficaz. Em suma, o que se pode ensinar é o uso das capacidades intelectuais humanas para gerar "best practice" (melhor prática) intermitente e continuamente. O melhor sistema é observar dirigentes bem-sucedidos, dialogar com eles e desenvolver a visão do que podia ser feito de modo diferente e melhor. Os casos apresentados, com suas respectivas notas de ensino, perguntas para orientar a discussão e sugestão de respostas a estas perguntas, obedecem a um ordenamento cronológico, procurando acompanhar a evolução do pensamento estratégico no Brasil

Comentário: O professor Agrícola Bethlem, do qual tive a grande oportunidade de ter sido seu aluno há mais de vinte anos, é uma das referências do pensamento estratégico no Brasil. É leitura obrigatória, ainda mais um livro que associa a teoria aos casos didáticos para estudo que ele tão bem sabe estruturar.


Gestão Internacional

Betania Tanure e Roberto Gonzalez Duarte (orgs.)

Editora Saraiva.

Os assuntos analisados vão desde as estratégias utilizadas pelas empresas em seus processos de expansão para o exterior até o papel dos recursos humanos na conquista do ambiente global, passando ainda pela relação entre matriz e subsidiária e entre diversidade cultural e gestão internacional. Há, ainda, um estudo conduzido por pesquisadores da Fundação Dom Cabral sobre o processo de internacionalização de empresas brasileiras.

Comentário: Outro bom livro sobre estratégia e gestão internacional, contando com a colaboração de muitos pesquisadores brasileiros conhecidos na área, a começar pelos organizadores Tanure e Duarte, além de algumas "estrelas internacionais", como o já falecido Ghoshal e seu parceiro de muitas obras, Bartlett. Um dos meus capítulos preferidos foi a tradução de um artigo de Klaus Macharzina e Michael-Jörg Oesterle sobre Aprendizado em Multinacionais, muito bom, não deixando de mencionar o do casal Fleury, o do português José Santos da Insead e outros tantos.


Os executivos das transnacionais e o espírito do capitalismo: capital humano e empreendedorismo como valores sociais.


Oswaldo López-Ruiz

Azougue Editorial

Este livro desvenda a face mais atual de um denso processo histórico, o do desenvolvimento capitalista em escala mundial. Examina-se nele o jogo da plena "humanização" do capital e da plena "capitalização" do homem. No caso, trata-se de um tipo particular de homem, o executivo na sua figura contemporânea mais acabada, o integrante da grande empresa transnacional. Este passa a ser valorizado não mais como mero representante, porém como literalmente portador do capital, unindo em si as figuras, outrora incompatíveis, do "empresário" e do "trabalhador". Vê-se assim uma retomada, em insuspeitado registro, do tema da formação, só que agora na forma da aquisição de capacidades, destrezas, disposições úteis ao desenvolvimento do capitalismo na sua fase contemporânea. E – ponto decisivo na argumentação do autor – essa aquisição se faz mediante uma forma de investimento, o investimento em si próprio, que gera um produto singular: o capital humano. Temas centrais como o do capital humano e do empreendedorismo são aqui levados a sério e examinados na sua constituição e como valores sociais, com o respeito crítico que merecem como expressões reais da organização social contemporânea.

Comentário: O livro faz uma abordagem crítica interessantíssima sobre conceitos como capital humano, gestão do conhecimento, capital intelectual, como reprodutores de uma linguagem que perpetue a dependência à ideologia capitalista, em especial os próprios executivos-empreendedores. O autor trabalha de forma bem refinada a questão teórica, citando Sombart, Schumpeter, Weber, a Escola de Chicago, entre outros. Vale a pena reproduzir as linhas finais da conclusão do autor: "... sabemos que se trata de um capitalista em relação de dependência; não um sujeito autônomo, apenas alguém com a independência (econômica) para ir e voltar do seu trabalho. Um trabalhador que precisa investir o tempo todo (consumindo) para garantir (sem garantias) sua posição social; alguém que precisa garantir (sem garantias) que continuará sendo aquele feliz indivíduo individual que imagina que é".

Bom, por enquanto é só, pessoal!




Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica .E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

Aprendendo e Organizando as Notícias: Boletim II

Olá, pessoal, continuo aqui a seleção de notícias da mídia corporativa, para leitura e reflexão.

Há notícias sobre internacionalização de empresas brasileiras, gestão da mudança, inovação e algo sobre "corporate show", o jogo de vaidades tão comum no mundo corporativo.

Bem, vamos lá


Operações internacionais de empresas brasileiras sofrem impacto da crise

Época Negócios - Notícias - 09/06/2010.

Apesar de o Brasil ter sofrido menos com a crise mundial do que o resto do mundo, as empresas transnacionais do país viram suas operações no exterior sentirem o impacto da turbulência econômica. Estudo divulgado nesta quarta-feira (09/06) pela Fundação Dom Cabral (FDC) mostra que no ano passado a receita das 23 companhias mais internacionalizadas do país vinda do exterior recuou para R$ 126,24 bilhões, uma queda de 15,73% em relação a 2008.

O estudo apresentado elenca as empresas mais internacionalizadas do país, segundo o número de funcionários, valor dos ativos e receitas no exterior. Na liderança, está a JBS-Friboi, estreante na pesquisa, realizada desde 2006. Líder, a JBS-Friboi possui 83,6% de suas vendas, 64% de seus funcionários e 37,3% de seus ativos no exterior, com presença em sete países e cinco continentes. Na sequência, aparecem Gerdau, primeiro lugar no ranking 2008, Ibope, Metalfrio e Odebrecht, seguidas por Marfrig, Vale, Sabó, Tigre e Suzano Papel e Celulose.

Apesar do cenário negativo com as preocupações com a economia americana e europeia, os empresários brasileiros esperam um desempenho melhor de suas operações internacionais para 2011. Essa expansão deve se dar principalmente por meio de aquisições e fusões, opção preferida para 40% das empresas pesquisadas. Alianças e Parcerias, com 19%, aparece em segundo lugar, junto com a abertura de escritórios comerciais.


Época Négócios - Notícias - 05/04/2010.

Artigo bem interessante promovendo o novo livros dos irmãos Heath, que aborda a idéia de que, para viabilizar a mudança, há a necessidade não só de trabalhar o racional, mas o emocional. Os autores fazem a analogia com um condutor em cima de um elefante, em que o condutor quer seguir um caminho e o elefante quer seguir o que ele quer: comparando com situações comuns, muitas vezes queremos algo mas nosso emocional nos impede, algo como querer acordar mais cedo mas não conseguir sair da cama. Assim, para conduzir uma mudança, há de se convencer o "elefante" em cada uma das pessoas envolvidas.


Empresas como GE e Microsoft invertem a lógica tradicional na qual a criação de novos produtos globais se concentrava apenas em países desenvolvidos. É a era da inovação reversa

Revista Exame 963, 02.03.2010.

O artigo explora o tema da inovação reversa, algo na linha da inovação frugal, que enfoca como empresas de países emergentes estão desenvolvendo produtos inovadores de forma a atender os chamados mercados da base da pirâmide, de renda mais baixa. Adaptações são feitas de forma a também serem aproveitados para países desenvolvidos. Empresas destes países procuram se estabelecer neste mercado para não perdê-lo ainda mais para as dos países emergentes.


Choque de titãs no mundo corporativo brasileiro.

Isto é Dinheiro 657 - 7 de maio de 2010.

Este artigo me fez lembrar a postagem Saúde e estética: como no indivíduo, entre a sustentabilidade e a imagem, só que aplicada mais aos executivos. A lição da visão americana individualista do grande herói corporativo, exemplo típico quando dou aulas sobre o modelo das dimensões culturais de Hofstede (para saber ou recordar, clique aqui) é levada à risca neste caso, mostrando a progressiva americanização do modelo de referência gerencial no Brasil. Houve comentários críticos à esta reportagem no sentido de que a revista estava virando uma revista de "fofocas", mas o mundo corporativo é cada vez mais "super star" mesmo em alguns aspectos. Aliás, tal tendência é estudada há muito tempo por acadêmicos corporativos no mundo, como Mats Alvesson, ou Thomaz Wood Jr., colunista da Carta Capital, no Brasil (ver alguns livros dele).

Bom, por hoje é só, pessoal!


Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica .E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

quinta-feira, 10 de junho de 2010

E a roda gira para a frente.

Um dos mantras que são emitidos no meio da aprendizagem em organizações é a idéia de que, para aprender algo muitas vezes é necessário “desaprender” outro tanto.

Isto ecoa o conceito de aprendizagem de circuito duplo, já comentado em "Saúde e estética: como no indivíduo, entre a sustentabilidade e a imagem ". Na medida em que o aprendizado de circuito duplo parte de uma mudança nos valores e pressupostos básicos, tal implica deixar de praticar o que se entendia como certo (desaprender) e incorporar outros entendimentos. Como dizia a propaganda da Fiat, está na hora de rever conceitos (abaixo um exemplo, para lembrar, e um mais voltado ao lado corporativo).







Várias outras referências do estudo das organizações manifestaram este posicionamento de várias maneiras diferentes. Uma destas referências foi Kurt Lewin (ver abaixo figura dele e do modelo), ao dizer que a mudança parte da seqüência descongelamento (velhas idéias em prática são desfeitas, abandonadas e desaprendidas)-mudança (novas idéias e prática são experimentadas, exercitadas e aprendidas)-descongelamento (as novas idéias em prática são incorporadas definitivamente ao comportamento).

Outra referência importante e muito usada mais especificamente no estudo da inovação, e mesmo da mudança como um todo, é a de Joseph Alois Schumpeter, economista austríaco (wikpedia) depois radicado, como também o alemão Lewin, nos Estados Unidos, dentro do contexto que gerou a segunda guerra mundial. A ele é costumeira e genericamente associado o conceito de “destruição criativa”(SCHUMPETER, 1961:1942, p.106): "o processo de mutação ... que revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos", algo "básico para se entender o capitalismo".

Penso que a raiz disto tudo reside na idéia, no conceito, de renascimento. Para renascer, algo tem que que morrer. Para aprender, algo tem que ser desaprendido.

Jung já dizia, como pode ser consultado em "Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo", que o conceito de renascimento não unívoco, podendo conter diversos significados, desde a metempsicose (transmigração da alma), a reencarnação, que contém o conceito de continuidade pessoal, a ressureição, o renascimento sem modificação do ser e o renascimento pelo processo de transformação externa, como numa graça ou benção concedida em um ritual.


A idéia do renascimento está presente também classicamente no mito da Fênix, um pássaro da mitologia grega que, “quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas”.




Ou ainda na presença de um dos deuses da trindade hindu, Shiva, que personificava a destruição criativa de que Schumpeter adotaria, pois era o destruidor, que destrói para construir algo novo, motivo pelo qual muitos o chamam de "renovador" ou "transformador”.







O budismo, com a liberação dos apegos, ou, porque não, o que se aprendeu como verdade.


Isto sem contar com uma representação magna do cristianismo, a ressureição ou o trecho de João 10: 17 e 18: “É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo. Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai”


Talvez a dicotomia entre aprender-desaprender seja equivocada. Desta forma aprender não é um processo de acúmulo, mas de substituição, ou de preenchimento. É algo como a gravação de um arquivo no computador, em que novas informações, advindas da experiência, promovem a atualização constante do arquivo original.

Aprender é "lavoisieriano", pois é um processo sobretudo de transformação, onde nada se perde, ou nada se cria: só a superficialidade é temporária e efêmera, o que está na essência permanece e se transubstancia. Na organização, ou na vida, cuidar de um ambiente de aprendizado, portanto, é cuidar para que a transformação seja um imperativo fundamental nos processos vitais, de modo que verdades inquestionáveis, apegos, e até sucessos, não venham jamais, como "armadilhas da competência" que são (ver post Metamorfose ambulante: o destino da aprendizagem? ), a se sobrepor à reflexão da experiência e a transcendência da sua própria verdade.


Assim a roda gira, e se desloca a partir de contínuos fechamentos de ciclos. Como as pessoas, as organizações evoluem por meio da transformação implícita em seus próprios ciclos de processos e realizações.




Américo Ramos
DSc em Administração, vinte anos de experiência profissional e acadêmica.
Visite o blog Aprendizagem e Organização”

domingo, 6 de junho de 2010

Aprendendo e Organizando os Livros: Boletim I

Olá, pessoal, inauguro aqui uma outra nova seção de postagens, que é a da seleção de livros a respeito de temas de meu interesse e estudo.

Estou privilegiando livros nacionais por ora, pela maior disponibilidade e facilidade, principalmente em nível introdutório. Entretanto, posso indicar também livros em inglês, que foram, em geral, bases para a elaboração dos próprios livros nacionais.

Bem, vamos lá!

Gestão da Sustentabilidade


Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável
Autor:
Barbieri, José Carlos; Cajazeira, Jorge Emanuel Reis
Editora:
Saraiva

O livro traz informações sobre o conceito da responsabilidade social empresarial e ferramentas que permitem planejar, implementar e avaliar a gestão socialmente responsável. Apresenta a complexidade da responsabilidade social, abordando temas como ética e desenvolvimento sustentável. Traz, ainda, aplicações práticas e instrumentos gerenciais.

Comentário: O livro traz uma abordagem atualizada do assunto, cobrindo aspectos teóricos e prático-instrumentais, incluindo a ISO 26000, cuja formulação é coordenada por um dos autores do livro.

Gestão do Conhecimento

Espirais do Conhecimento - Ativando Indivíduos , Grupos e Organizações
Autor:
Sabbag, Paulo Yazigi
Editora:
Saraiva

O livro alcança ainda pesquisadores e profissionais cujo valor deriva especificamente de seu conhecimento e interessados por temas como aprendizagem e competências profissionais. A obra está dividida em cinco partes, e é concluída com reflexões sobre a atitude aprendiz e propõe um modelo de sistema de aprendizagem organizacional.

Comentário: O livro traz uma abordagem abrangente e interessante do assunto, incluindo aspectos contextuais, processuais e suas aplicações nas organizações

Aprendizagem Organizacional e Competências


Os Novos Horizontes de Gestão
Aprendizagem Organizacional e Competências
Roberto Ruas, Claudia Simone Antonello, Luiz Henrique Boff e cols

Editora: Bookman


A obra reforça os aspectos conceituais das abordagens gestão por competências e aprendizagem organizacional e descreve e analisa as experiências de aplicação destas abordagens em empresas de diferentes setores.

Comentário: Uma das melhores publicações nacionais sobre a relação Aprendizagem Organizacional e Competências, cobrindo tanto as origens teóricas quanto as aplicações, levando a uma noção mais abrangente e introdutória sobre o assunto


Internacionalização: Gestão e Estratégia

Internacionalização e os Países Emergentes.
Afonso Fleury e Maria Tereza Leme Fleury (orgs.)
Editora Atlas.

Os textos trazem para a discussão acadêmica e os fóruns empresariais o tema da internacionalização de empresas de países emergentes.


Comentário: O livro mostra o resultado de várias pesquisas coordenadas por acadêmicos importantes da área, especialmente no cenário nacional, tanto no aspecto teórico quanto nos casos apresentados.

Bom, por hoje é só, pessoal!





Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica .E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

sábado, 5 de junho de 2010

Aprendendo e Organizando as Notícias: Boletim I

Olá, pessoal, inauguro aqui uma nova seção de postagens, que é a da seleção de notícias da mídia corporativa, para leitura e reflexão.

Esta primeira "fornada" tem como principal assunto a internacionalização de empresas, que é ligado à minha tese de doutorado, mas há e haverá outros assuntos também.

Bem, vamos lá!



A reportagem trata da aplicação de duas tendências importantes na gestão relacionadas à aprendizagem: o conceito de inovação aberta (open innovation) e o uso das redes sociais. Inovações importantes surgem com o concurso das idéias dos próprios clientes, por sua vez, cada vez mais conectados.


A reportagem conta a trajetória de internacionalização da Metalfrio, que embora um pouco descritiva, ilustra o conceito de aprendizagem estratégica e como fica a internacionalização neste contexto.

Um recorde incômodo (revista Exame 966): A greve dos mineiros da operação da Vale no Canadá acaba de completar nove meses - a mais longa da história da empresa - e já custou algo em torno de 1 bilhão de reais

A reportagem ilustra dificuldades vividas por multinacionais brasileiras, como a Vale, e administrar o balanceamento de forças globais e contextuais na sustentabilidade de seu processo de internacionalização, muitas vezes pela visão autocentrada que possuem. A implantação de práticas globais de gestão não se faz impunemente, há questões contextuais em jogo (veja em Publicações alguns trabalhos meus neste sentido, em especial minha tese de doutorado e trabalhos nesta baseados)

O Trabalho é Plano (Revista Época Negócios nº. 38, abril de 2010)

Muito boa reportagem sobre a experiência de expatriação brasileira e os aspectos inter-culturais que exigem muito planejamento e dedicação para adequar o global e contextual na estratégia de internacionalização das empresas.

Quero ser gigante (Revista Época Negócios nº. 38, abril de 2010)

A reportagem comenta o desafio de internacionalização de duas empresas do grupo Odebrecht, que entraram em 2010 com a meta de se tornar gigantes e globais. Boa pedida para compreender os processos de internacionalização, dificuldades, desafios e aprendizagens. A experiência de internacionalização da Odebrecht estava mais restrita até há pouco tempo às suas investidas em obras internacionais de seu braço de Construção, a Construtora Norberto Odebrecht e a subsidiária portuguesa Bento Pedroso, adquirida em 1988.

O Brasil que compra o mundo (Revista Isto é Dinheiro 661, 9 jun 10): Com fome global, empresas verde-amarelas aproveitam a crise internacional para engolir concorrentes lá fora e podem fazer de 2010 um ano de investimentos recorde.

A matéria mostra a volta das multinacionais brasileiras às compras, um panorama geral das operações.

A decisão final é dos números (Revista Amanhã, sábado, 03 de abril de 2010): Pesquisas derrubam o mito do poder da intuição e atestam que as melhores decisões são aquelas tomadas por... algoritmos. Por Andrew McAfee*, para a Harvard Business Publishing

Um artigo polêmico, escrito por um autor cujo livro é um dos sucessos pela turma da Gestão do Conhecimento, que critica a intuição na tomada de decisões. Leiam e tirem suas próprias conclusões. No meu entendimento, o artigo não derruba, mas até subsidia a tese a qual pretende derrubar. Afinal, já dizia Simon, um dos clássicos da Teoria das Organizações e ganhador do prêmio Nobel de 1978 (uma rápida informação sobre Simon pode ser acessada na wikipedia ou no site "O Coruja das Coisas"), bem como outros autores antes dele, que não há racionalidade absoluta, nem com todo o ferramental matemático e computacional existente hoje. A tomada de decisão será sempre dependente de quem a executa, de sua interpretação, de sua capacidade de julgamento e do seu conhecimento pessoal, na acepção de Michael Polanyi (o do conhecimento tácito e explícito: uma rápida informação sobre Polanyi pode ser encontrada em sites como o do Acton Institute), portanto, de sua experiência e aprendizagem acumulada. A intuição se faz a partir daí, não é uma mágica, como de certa forma o artigo parece sugerir.

Bom, por hoje é só, pessoal!




Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica .E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

As duas faces da Gestão: A Sustentação e a Transformação

Versão anterior escrita em 2000.

É bastante comum, até um modismo, enfatizar nas empresas a questão da mudança, ou da transformação. Fala-se que gerenciar a mudança vem sendo uma preocupação desde a antigüidade; que a mudança é indispensável às empresas nestes tempos de hipercompetitividade; que a única coisa permanente é a mudança, é "ou mudança ou morte" etc. Por outro lado, também não é incomum ressaltar-se que as boas empresas são aquelas que se mantém íntegras ao longo do tempo, não são "maria-vai-com-as-outras" dos modismos gerenciais, são "feitas para durar" e assim por diante. No meio deste tiroteio, quem tem razão?

Não há dúvidas de que a Mudança é uma dimensão importante para as organizações, sem torná-la, porém, uma panacéia. A administração deixou há muito tempo de ser imune ao que acontece "lá fora". A mudança é parte integrante do movimento organizacional, de sua sobrevivência e crescimento. Por outro lado, as empresas, ao mesmo tempo que mudam, buscam também manter sua identidade. Vê-se, nestas organizações, uma sustentabilidade organizacional dinâmica, ou seja, desenvolvem-se sem perder sua unidade essencial face às mudanças do ambiente. A sustentabilidade organizacional é tratada aqui sob três dimensões básicas, com sólida inter-relação: o da performance, o do conhecimento e o da sinergia:


a performance diz respeito aos fatores que contribuem para o melhor desempenho da empresa, no exercício de suas atividades, em termos de mercado, capital, produtividade, satisfação de clientes e empregados etc.;
– a sinergia compreende os fatores que possibilitam que as ações da empresa sejam fruto de uma interação coordenada entre potenciais e desempenhos das equipes de trabalho, motivadas e comprometidas não só para resultados formais negociados, mas para objetivos mais amplos, derivados do que foi compreendido e pactuado.
– o valor diz respeito aos fatores que possibilitam a empresa ampliar expertise nos seus processos, desenvolver ativos tangíveis e intangíveis e ampliar seu espaço junto aos seus públicos de interesse, inclusive a sociedade e os mercados onde atua;

Nessa busca da transformação sustentada, torna-se importante a configuração de um sistema de inteligência organizacional voltada à ação humana, com modalidades dispostas em função dos agentes sociais envolvidos nos níveis gerencial, técnico e operativo, bem como interesses encontrados respectivamente nas vertentes da sustentabilidade. Pode ser modelada a partir de variáveis reunidas em três categorias: de contexto, relativas ao ambiente externo e interno à organização; de estado, ligadas aos resultados e desempenho obtido pelas pessoas, à sinergia e qualidade de vida no trabalho e ao conhecimento e geração de competências organizacionais; e de sistema, compondo políticas e sistemas de trabalho para suporte à gestão da organização, buscando a melhoria de sua performance, sinergia e competências, envolvendo o dimensionamento, desenvolvimento, gerenciamento, organização e integração das equipes de trabalho. Todos os componentes são suportados por processos de gestão, compreendendo a prospecção de tendências, a avaliação do desempenho, a análise das informações coletadas e a formulação de estratégias.

Não se muda sem se sustentar, não se sustenta sem a mudança. Enfim, a gestão organizacional é como uma moeda, e como todas as moedas, apresenta duas faces: uma face leva a se propulsionar para a transformação; outra leva a sustentação de sua identidade. Assim como a moeda é um meio interativo para a satisfação de necessidades, a gestão também é um meio para a satisfação de necessidades de clientes, fornecedores, empregados, instituições públicas etc.. A compreensão disto por parte dos membros da organização, em especial os seus gestores, leva a aumentar seu poder de satisfação das partes interessadas, os "stakeholders". Assim, há um movimento contínuo entre as duas faces, como o yin e o yang dos orientais: a que sustenta e a que transforma, para então ser empreendida uma gestão mais integradora e que leve a uma inserção significativa e contributiva junto à sociedade. Enfim, buscar o equilíbrio em pleno movimento.



Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica. E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

quinta-feira, 3 de junho de 2010

E o Homem criou a empresa ...




A tradição abraâmica (judaísmo, cristianismo e islamismo) retrata a criação do homem por Deus a partir do barro, símbolo da materialidade do corpo humano, porém com o seu sopro divino, dotando o homem de uma espiritualidade. Este dualismo o leva a um dilema, entre atender aos reclamos do corpo e as aspirações do espírito, nem sempre, ou quase nunca, dependendo do contexto, convergentes.

E a empresa? Terá ela corpo e alma? Em termos de representações, por que não?

A empresa tem sua parte material, o seu barro, representada por sua estrutura organizacional, seus recursos materiais e financeiros, ativos tangíveis. Por sua vez, a empresa também tem sua alma, representada por sua cultura e expressões de valor que originam os ativos intangíveis da empresa.

O conflito entre o ter e o ser no homem assemelha-se na empresa ao conflito entre o lucro capitalista e a sustentabilidade, ou entre a orientação para o mercado e partes interessadas e a orientação para cultura e propósitos fundamentais.

Compreender este dualismo é fundamental quando da implantação de um programa de gestão da mudança, oriundo da alteração em algum aspecto do contexto em que a organização está inserida. Assim, é sabido ao menos desde a abordagem do Desenvolvimento Organizacional que mudar passa não só pela mudança de estruturas, sistemas e processos, mas também pela mudança cultural. Tal como o homem, pois a sua mudança passa também pelo seu corpo e alma.

Para que uma organização não se cristalize e esteja atenta aos sinais necessários de uma mudança, é importante que esta esteja incluindo aspectos estruturais e materiais, assim como a condução da vida humana depende do balanceamento que deve ter das demandas do barro e do que lhe foi soprado. Tal prontidão para a mudança, por sua vez, torna-se uma realidade com a manifestação de um estado de aprendizagem contínua, de forma que as lições decorrentes possam atender ao equilíbrio referenciado.

A empresa foi criada pelo homem com os recursos materiais e o sopro dos valores dos fundadores e seus continuadores. Sua sustentabilidade e perenidade representam sua evolução e o cumprimento de sua razão de ser. A aprendizagem, por sua vez, deve ser direcionada para estas finalidades. Quando uma organização só vê um dos lados, não vai para frente, ou vira uma boa idéia sem aplicação ou uma estrutura sem valores.

Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica. E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).