terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Yin e Yang da gestão: a simetria entre o integrar e o entregar


Américo Ramos.

Não é incomum ouvir alguém, ao pensar em dizer “integrar”, diz, sem querer (“querendo”? rsrsrs), “entregar”, ou vice-versa. Sobre este jogo de palavras quase iguais em forma, mas de origem etimológica e significado bem diferentes, muito já foi falado, do fútil ao útil (outro jogo de palavras, rsrsrs...).

Fonte: http://danilosaretratista.blogspot.com.br/2010/11/proporcao-aurea-beleza-das-fases.html
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidCBrLZbOvqn_sJYlsRzyavv7LAUH-RKZLDrp5GghSjxtx2quqooPd8Am1WtFaYRZTzDMA69N1u7HPq9YUpO_29IgpTvT6m8gUsq4wLMRc4H100nJ_wvSHohSXCg6gzRULEHXVgzZYGaw/s400/jolie+mascara+propor%25C3%25A7%25C3%25A3o+aurea.JPG


Mas eu gosto de jogo de palavras, por isso, vou destacar um aspecto relacionado à gestão que usa muito as duas expressões. Na verdade, me inspirei em algo falado em uma aula de Mestrado que dei na UFRRJ (ao pessoal da turma de 2012, “meus créditos”!), aplicado à Gestão de Pessoas, mas aqui vou “generalizar a solução”.

Por um lado, exige-se dos profissionais de gestão, seja de que área específica forem, ter uma visão sistêmica, saber das repercussões, relações de causa e efeito, interações, de todos atos e decisões decorrentes do gerenciamento e da administração, em especial no tocante ao que é planejado, projetado, melhorado, transformado, reformulado, e assim por diante. Esta é a face “integrar” da gestão. Todavia, tais sugestões demandam algum tempo de maturação e aprendizado, no sentido de evitar retrabalho ou soluções incompletas, o que esbarra frequentemente na exigência costumeira de resultados imediatos, resposta operacional ágil, do tipo “precisamos de uma solução para ontem”. Aliás, trata-se de algo por que sempre sofrem os analistas de estratégia, tachados de sonhadores, “gênios pensantes”, jogadores de loteria etc..

Por outro lado, ou em função desta observação anterior, demanda-se dos profissionais de gestão a capacidade de satisfazer o cliente, fornecer respostas objetivas, dar resultado. Este é a face “entregar” da gestão, como é de outros tantas áreas, é a famosa “entrega” (não estou usando aqui outro sentido da palavra “entregar”, o que demandaria outro texto, por isso, não abordarei). O problema é que, às vezes, ou muitas vezes, dependendo da situação e da pessoa, reclama-se que a resposta não saiu bem pensada, ficou sujeita a retrabalho, foi imediatista, incompleta, prematura, não teve, enfim, uma “visão sistêmica” e integrada.

Assim é o vai e vem da gestão, ora integrando, ora entregando. É um yang e yin, uma capacidade mais ativa e de resultado, outra mais introspectiva, receptiva e integradora.

Por isso mesmo, não se deve pensar que há uma dicotomia, um trade-off, entre integrar e entregar. O que mais se exige é que o profissional de gestão entregue (dê resultado, tenha foco no cliente, tenha agilidade e iniciativa) e integre (tenha visão sistêmica, esteja atento ao aprendizado contínuo, esteja habituado a modelar soluções). Trata-se, assim, de harmonizar as energias “yin” e “yang” deste particular.

É normal, também, que cada um de nós tenha mais um lado do que outro, seja em baixo ou elevado grau, o que só reforça o trabalho em equipe. Todavia, não pode haver grandes discrepâncias entre as duas faces, ou lados da face. O mais comum é que não tenhamos faces simétricas (os lados de nossa face não são, em geral, iguais), mas quando elas são muito diferentes, o resultado estético não é dos melhores, assim como a eficácia profissional também não é das melhores: um sistêmico/integrador sem resultados é visto como um sonhador e teórico, e um entregador sem visão sistêmica é um operacional “carregador-de-piano” necessário, mas que para por aí.

Logo, talvez um modelo de desenvolvimento de competências em gestão mais simplificado seria fazer uma análise desta “distribuição yin-yang”, qual é a assimetria entre o entregar e integrar e fazer um plano de desenvolvimento que passa tanto pelo lado técnico (ferramentas, modelos) como comportamental (disposições associadas a cada característica). Se não chegarmos a faces simétricas, vistas como atributo de beleza (até é comum haver pesquisas sobre o assunto), ficará bem perto disso. Há de considerar também as atribuições de cada área de trabalho: quem trabalha em gestão estratégica tende a ser mais integrador, quem fica na linha de frente na produção ou vendas, tende a ser mais entregador, mas, como já dito, vimos que o outro lado não pode ser negligenciado. De que adianta um analista de estratégia, ou mesmo um pesquisador, por exemplo, sem resultados para oferecer, sem clientes para atender?

Por fim, fica a reflexão, que faço a mim mesmo também: somos mais integradores ou entregadores? Podemos melhorar nossa composição? Ficaremos mais bonitos se mais simétricos?







Américo Ramos , DSc em Administração,
E-mail: americodacostaramos@gmail.com.
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