quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cotidiano, Confiança, Competência e o efeito Catchup





Em tempos de Copa do Mundo, não dá muito para fugir do assunto. Vejamos uma notícia de 13 de junho, vinda da “Gazeta Press” (fonte: http://www.abril.com.br/blog/copa-do-mundo-2010/2010/06/cristiano-ronaldo-minimiza-jejum-gols-sao-como-catchup/)


Apesar de toda a badalação, o atacante Cristiano Ronaldo não marca um gol em jogo oficial pela seleção portuguesa desde a Eurocopa de 2008. Passou em branco nas sete partidas que disputou nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Mas, com bom humor e uma comparação inusitada, o astro minimizou o jejum.

“Gols são como catchup. Quando começam a sair, vêm todos de uma vez”, filosofou Cristiano Ronaldo, que espera uma recompensa divina na África do Sul. “Deus sabe quem trabalha e merece. Por isso, não estou preocupado. Continuo perfeitamente tranquilo”, garantiu...


E não é que no dia 28 Portugal faz sete gols de uma vez? E na Coréia do Norte, o time em que o Brasil ganhou sem maiores facilidades de 2 a 1! O próprio Ronaldo saiu do jejum. O catchup funcionou, afinal!

Individualmente, o catchup saiu também para Luís Fabiano, outro que estava em jejum de gols. Fez dois de uma vez, um dos quais lembrando dois gols famosos de Copa: um do Pelé, em 1958, outro, da “mano de Dios” de Maradona, em 1986. Este gol, apesar da irregularidade não marcada, foi bem bonito, e creio que não seria marcado se Luís Fabiano não tivesse ainda recobrado a confiança após o primeiro gol, pela ousadia e convicção da jogada.

Confiança ... mas não era catchup?

Cristiano Ronaldo e Luís Fabiano não haviam desaprendido a jogar, muito menos a seleção portuguesa. Mas, quando conseguiram acertar novamente, a confiança voltou e a capacidade, obstaculizada pela dúvida, pôde se manifestar livremente. E aí, as próximas tentativas são, naturalmente melhores. Superou a resistência do medo, da dúvida, da falta de confiança, as capacidades represadas podem finalmente se manifestar de forma mais intensa, como se buscasse recuperar o tempo perdido. Tal como um catchup!

Bom, e o que isso tem a ver com aprendizagem, competências, conhecimento ... ora, tudo!

Mais ou menos como o famoso CHA da Gestão de Competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), a competência de alguém, seja no futebol como na organização, é resultante do aprendizado do que é conceitualizado e do que é vivenciado. É a vivência que irá moderar o quanto o que foi incorporado em conceitos é reconhecido como verdade e boa prática. Só que a vivência, por sua própria natureza, está sujeita a questões do plano das emoções, e isto interfere nesta moderação, neste julgamento. Assim, uma vivência dita negativa no plano emocional afeta o julgamento e interfere na verdade e na boa prática, sempre ajustada, podendo embotar o pleno desempenho das competências racionalmente adquiridas e validadas na sua aplicação.

Todavia, a competência nunca deixou de existir, somente encontrou as saídas de sua manifestação “entupidas”. Na medida em que uma outra vivência no plano emocional, após outras tantas tentativas anteriores, reajustou o julgamento aos níveis anteriores, inflando novamente a confiança e retroalimentando a qualidade do desempenho, o entupimento foi “vencido” e as competências voltam a funcionar, “sedentas”, de expectativas positivas, aos borbotões.

A Moral da História é que a competência é confirmada dia a dia pela experiência, pelo cotidiano , tão bem desenvolvido pelos sociólogos Berger e Luckmann em “A Construção Social da Realidade”, modelando de forma pessoal o conhecimento existente destarte uma visão comum. Por isso o canal de manifestação deste conhecimento é a confiança; estando ela embotada, a competência não se manifesta enquanto tal entupimento não se desfaz por uma ação contrária inserida pela própria realidade cotidiana, resgatando e liberando a competência.



Portanto, assim como o efeito pigmaleão, ou o efeito placebo, ou o paradoxo de Abilene, que freqüentam textos de psicologia e comportamento organizacional há também o efeito catchpup! Aliás, não é nada novo, mas sua popularização no mundo da bola pode ajudar até a promover estudos empíricos sobre o assunto, por que não? Trabalhar a confiança dentro do cotidiano permite a competência sempre fluir, às vezes demora, mas quando flui, é o catchup. Se o empresário do Cristiano Ronaldo aproveitar, pode levá-lo para um daqueles mega-eventos de “Management”!




Américo Ramos , DSc em Administração, vinte anos de experiência profissional e acadêmica.
E-mail:
americodacostaramos@gmail.com.
Visite o blog Aprendizagem e Organização” (
http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

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