sábado, 9 de junho de 2012

Caminho do meio nas organizações: lições de Madagascar



in: http://cltampa.com/imager/b/story/2982798/c8bf/hr_Madagascar_3-_Europes_Most_Wanted_26.jpg

Américo Ramos

Hoje vi com o meu filho mais novo e minha esposa o filme Madagascar 3. De uma das tramas clássicas inseridos na animação, envolvendo o tigre Vitaly, resolvi destacar algumas reflexões.

Aristóteles, em "Ética a Nicômaco", coloca a importância de se efetivar o caminho do meio para afirmação da excelência, da virtude. Importância esta dada não só por ele, mas por outros sábios antes dele, como Confúcio e Buda (ver Lou Marinoff em seu livro). Assim, como exemplo, e adequado para que vou comentar mais adiante, a coragem, já apontada como virtude cardinal apontada em “a República” de Platão, estaria no meio do caminho entre a covardia e a temeridade. Ressalte-se, ainda, que o caminho do meio não fica no meio exatamente, e dependerá de cada um, de cada situação.

Desculpando-me antecipadamente com aqueles que ainda não viram o filme, já que adiantarei alguns trechos do enredo, o caso do tigre Vitaly, tigre de circo no qual refugiam-se os integrantes da turma de “Madagascar”, ilustra esta questão. Vitaly era famoso por passar por dentro de aros, destacava-se pela coragem. Além disto, não tinha medo de assumir riscos, cada vez mais anunciava que passaria por aros com diâmetros cada vez menores, e conseguia, batia metas em cima de metas. Seu principal recurso externo era banhar-se de azeite, que tornava seu pelo com propriedades adequadas para o que pretendia fazer. Sua confiança sem limites, associada à vaidade, o levava a inebriar-se de novos desafios cada vez maiores para acalentar seu ego cada vez maior. Então, resolveu não só passar por um aro do diâmetro de um anel usado pelo “mais magro dedo feminino”, como este estaria em chamas. O problema é que o azeite pega fogo, e com isso, ao passar pelo anel, ele ficou bastante queimado, arruinando seu pelo, que ao nascer de novo nasceu com problemas; com a perda de seu pelo, perdeu-se também sua confiança. Foi para o outro extremo, virou medroso, pessimista, rabugento, infeliz, ressentido.

Sua redenção se deu com o leão Alex, que recomendou que ele usasse o seu condicionador no lugar do azeite. Deu tudo certo e Vitaly recuperou sua confiança e excelência, porém calejado pela vivência anterior.

Nas empresas, é muito comum o discurso da superação de metas, do gosto pelos desafios, pelo apetite em correr riscos. Muitas vezes o talento demonstrado pelas pessoas o impele a aceitar os riscos e a própria confiança obtida com as sucessivas vitórias e conquistas alimenta sua necessidade em querer sempre mais, assim como a cobrança do sistema como um todo. Entretanto, nem sempre o talento e confiança são temperados pela disposição à contínua aprendizagem e desenvolvimento de competências. Assim, ao invés disso, as vitórias alimentam o sujeito de soberba, amor próprio, vaidade, inflam o seu ego e sobredimensiona o seu mérito e capacidade de vencer desafios. Fica completamente cego à percepção de risco e passa da coragem para a temeridade, que fica à espreita de algum erro de competência (a armadilha da competência de Levitt e James March, que já citei em outras postagens). Então, chega o insucesso, o fracasso mesmo, e como a coragem se assentou em bases frágeis por falta de conhecimento, dá lugar ao extremo oposto, a inércia, o medo de errar, a acomodação, a frustração, a inveja e ao ressentimento da “sorte que mudara”.

A saída está em quatro disposições mostradas na animação e na história contada: o conhecimento, a humildade, a abertura à aprendizagem e a solidariedade. Conhecimento, como a substituição do azeite pelo condicionador, responsável racional direto pelo problema com Vitaly; humildade, permitindo que Vitaly assumisse a necessidade do outro, e que sua superioridade específica em um talento jamais deve transcender à importância de valorizar a contribuição e a superioridade de cada um em tantas outras dimensões; abertura à aprendizagem, como decorrência direta dos dois primeiros e; solidariedade, mostrada por Alex e descoberta e praticada então por Vitaly, e sem o qual a construção coletiva perde todo o sentido e finalidade. 

O caminho do meio pode, assim, estar perto do extremo em certas ocasiões, a depender do grau de conhecimento e da virtude em construí-lo no coletivo, sem egos inflados e vaidades em duelo constante. A excelência de uma empresa se dá contingencialmente (eu sei, a teoria da contingência já dizia isto há muito tempo) pois o caminho do meio de indivíduos, grupos e organizações se faz caso a caso, em função dos conhecimentos e virtudes, pessoais e organizacionais, adquiridos. Assim, não adianta cobrar um comportamento de assunção de risco sem estes valores, pois não se sabe o ponto do “caminho”, e, ao se confundir sobriedade com covardia, ou coragem com temeridade, eventos traumáticos que vierem a acontecer por falta de preparo levam as empresas a recuarem em seu desempenho, perderem criatividade, confiança, e, enfim, a condenam à morte em fogo lento, assim como os seus mais destacados talentos.

Antes de exigir resultados e ousadias a qualquer custo, pense na competência e nos valores necessários para tal. São alguns passos para trás que farão toda a diferença mais adiante, construindo-se, assim, verdadeiramente, a coragem organizacional.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Entrevista no Foro Mundial de la Calidad y de la Gestión para Mejora


Entrevista dada por ocasião do Foro Mundial de la Calidad y de la Gestión para Mejora, de 22 a 25 de maio de 2012, promovido pelo INLAC, em Puerto Vallarta, México, logo após de dar a primeira de minhas duas conferências neste evento, a saber:

Integración de diferentes modelos de gestión.
La Eficacia es real: recomendaciones para la sustentabilidad organizacional.


A entrevista foi feita pela revista mexicana "Teorema Ambiental", revista técnica-ambiental mexicana.

Clicar neste link: Americo Ramos