sábado, 20 de março de 2010

Learn or burn? Brian Wilson, Metas e aprendizagem.




O conjunto Beach Boys teve grande rivalidade com os Beatles na década de 60, ou pelo menos, até 1967. Seu grande talento era, indiscutivelmente, Brian Wilson, com suas músicas e arranjos. Ele formava o conjunto com dois irmãos mais novos (Dennis e Carl Wilson, já falecidos), um primo (Mike Love) e ainda Al Jardine.

O grande momento do conjunto foi em 1966, quando do lançamento do disco “Pet Sounds”, revolucionário para a época e não muito compreendido nos EUA, ao contrário da repercussão no Reino Unido. Brian havia ouvido “Rubber Soul” dos Beatles, lançado meses antes e colocou um desafio para si mesmo, o de fazer um disco melhor. “Pet Sounds” foi reconhecido inclusive por membros dos Beatles, como Paul McCartney, que considerou uma das músicas do álbum “God only knows”, como a “melhor canção já escrita”, sem contar com George Martin, lendário produtor da banda britânica.

Então Martin e os Beatles “deglutiram” o álbum e responderam a Brian à altura lançando Sgt Peppers, em 1967, um disco também fantástico e revolucionário. Aí Brian, que já enfrentava problemas pessoais e, conseqüentemente, com a produção de “Smile”, seu trabalho seguinte, ao ouvir Sgt Peppers, diz a lenda, “pirou”. Não conseguiria terminar seu trabalho e ficou praticamente “hibernando” todo o restante de sua juventude e boa parte de sua maturidade. Quando se recuperou o suficiente, já tinha praticamente sessenta anos. Em 2004, 37 anos depois, terminou “Smile”, que se lançado na época prevista, também teria sido um grande marco.

Os Beach Boys nunca mais foram os mesmos sem sua chama criadora, Brian Wilson, efetivamente presente. E os Beatles, sem maiores desafios depois de Brian “jogar a toalha”, ainda “duraram” alguns álbuns com qualidade até terminarem em 1970, destacando-se o Álbum Branco e “Abbey Road”.

Em 1971, em um dos seus piores momentos de depressão e da incapacidade de voltar a ser o grande compositor que era, Brian lançou “Til I Die” Na letra, Brian se comparava a uma rolha boiando no oceano, ou uma rocha em um desmoronamento de terra, ou ainda uma folha em um dia de ventania, sem nenhum controle de suas ações, e de quando tal situação iria terminar, e assim ele se sentia até quando morresse (ouça e leia a canção com tradução aqui).

Bom, como fica a aprendizagem aqui? Esta canção e todo o seu contexto passam uma situação muito conhecida: a de que a aprendizagem é, fundamentalmente, uma resposta a desafios e metas, e que sem esta resposta não há aprendizagem. Além disso, extrai-se que a competição é importante, mas para sermos melhores que nós mesmos: se formos guiados apenas pela vaidade, vemos o melhor trabalho, o melhor estudo, a melhor obra, como uma afronta, um castigo, um atestado de incompetência, e deixamos de aprender, deixamos de ter metas, e sem isto tudo, o resultado é a perdição, a decadência, a depressão, a sensação de total pequenez, mas por estarmos feridos gravemente pelo nosso amor próprio, orgulho, vaidade. Brian, ao “acabar com si mesmo” e deixar de aprender, logo, melhorar em sua arte, terminou por, de certa forma, prejudicar até seus rivais ingleses, que por falta de alguém que os ombreasse, progressivamente perderam suas metas coletivas.

Nas organizações precisamos ter metas pessoais claras e constantemente renováveis, e observar os feitos e resultados dos demais como estímulos à aprendizagem e nossa própria melhoria. O orgulho de ser o maior, principalmente se temos talento em algo, pode cegar nossa capacidade de aprender e, num círculo vicioso, destruir metas e, com isso, piorar esta capacidade e, o que é pior, a vontade de aprender. Sair desta situação é fácil e quanto maior o talento, maior o tombo, que o diga Brian Wilson.

Enfim, a comparação é importante como medição e gerenciamento de nossa aprendizagem, isto já dizem os manuais de administração há muito tempo. Entretanto, isto nunca deve ser feito à margem da procura de ser melhor como ser humano, algo que estes mesmos manuais, não poucas vezes, se silenciam.



Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica .E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

quarta-feira, 3 de março de 2010

Porter x Potter







Nas minhas aulas de gestão sempre que comentava sobre algum dos conceitos de um dos grandes nomes dos Estudos em Estratégia, mais especificamente da Escola do Posicionamento, segundo outro grande “figurão”, Mintzberg, e seus colaboradores, tinha que parar para refletir e evitar confundir com o nome do bruxo das histórias de Joanne Rowling. Até por isso mesmo, sempre brinquei com os nomes nas aulas. Acho, inclusive, que até se parecem fisicamente. Mas, se faço o trocadilho, não daria para fazer uma reflexão acerca disto?

No mundo corporativo, apesar das polêmicas e críticas (justas ou invejosas, não vem ao caso aqui), não tenho dúvidas de que Michael Porter é um dos bastiões do pensamento racional em estratégia, haja vista seus modelos lógicos, sua própria formação de forte cunho matemático, entre tantos outros argumentos que poderiam ser levantados. Ele disse, inclusive, que é contra o experimentalismo estratégico, “não funciona”, disse.

Por outro lado, Harry Potter representa, por sua história e demais personagens, o lado “mágico”, mas também da “coragem”. A mágica transcende o cientificismo tradicional e seus modelos, representa o “sair do quadrado”, o “aprender com outro tipo de forças que não está no racionalismo”. E quanto à coragem, vale lembrar uma cena do primeiro filme da saga, o do “jogo de xadrez”, em que fica patente a necessidade de complementação da capacidade lógico-estratégica (Ron), o acúmulo de conhecimentos explícitos (Hermione) e a coragem, liderança e senso missionário, a aprendizagem com a experiência (Harry). Assim, a capacidade lógico-estratégica e o próprio conhecimento acumulado em modelos e procedimentos realiza-se de forma mais eficaz se a experiência for vivida, com determinação e confiança no propósito a alcançar. Não seria incomum que este terceiro fator possa ser o mais imprescindível, o que pode contrariar as convicções do “honorável guru da estratégia”.

A estratégia, então, envolve uma série de requisitos. A capacidade racional-analítica e a gestão das informações estratégicas geram o conhecimento necessário para uma melhor tomada de decisão e leitura do ambiente competitivo. Entretanto, há mais. Há de se ter a capacidade de “ajustar o avião no vôo”, de aprender com a experiência, a não se afastar dos propósitos e ter coragem de enfrentar, com determinação, as adversidades e desafios que vierem a se interpor, de usar o “poder pessoal”, mesmo a própria intuição. Aí, “a mágica aparece” e não está, de modo algum, incompatível com o racional.

Ensinar estratégia competitiva deste jeito ainda é vista como uma “enganação”, algo totalmente anti-científico. Eu mesmo ainda tenho meus cuidados nas aulas. Todavia, se forem vistos os grandes casos de sucesso de estratégia muito provavelmente os executivos e demais líderes da empresa em questão não chamaram apenas Porter para conversar, às vezes pagando milhares de dólares. Talvez tenham saído juntos com Potter, de vassoura e varinha, para enfrentar desafios com forças que estão além das mostradas e “imortalizadas” pelo famoso teórico em estratégia competitiva.

Então? Porter ou Potter? Ou seria Porter e Potter?

Américo Ramos é Doutor em Administração, com vinte anos de experiência profissional e acadêmica .E-mail: americodacostaramos@gmail.com. Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).


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