quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Estratégia, Sun Tzu e o Conhecimento


Um dos livros clássicos mais referenciados nos estudos sobre Estratégia é “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, estrategista militar chinês do século IV A.C.. É um livro muito fácil de adquirir e não será resenhado aqui. O que quero chamar a atenção, apenas, é o famoso trecho que hoje é responsável pela migração do interesse do livro de estrategistas militares para executivos e administradores:

Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas"

Falo este trecho sempre ao longo do curso de Estratégia Competitiva para meus alunos, pois para mim resume as principais escolas de pensamento e ação sobre o assunto: posicionar-se frente ao ambiente e desenvolver vantagens competitivas. Divido o curso praticamente com base nisto. Além disso, tem tudo a ver com conhecimento e aprendizagem.

Posicionar-se frente ao ambiente refere-se a “conhecer o inimigo”. Realizar a inteligência competitiva, conhecer o ambiente externo, as partes interessadas, a arena competitiva e as forças que nela agem.

Desenvolver vantagens competitivas refere-se a “conhecer a si mesmo”. O desenvolvimento de ativos estratégicos, competências essenciais ou capacitações dinâmicas, inovação e conhecimento, cadeia de valor, são exemplos desta parte.

Tanto em um caso como no outro, cabe um grande esforço de conhecimento e aprendizagem para que estas duas grandes dimensões estejam dominadas. Assim, a dinâmica competitiva da organização estará assegurada. Ou melhor, quase assegurada, já que o conhecimento não se encontra em estado puro, absoluto, já diziam vários autores, como Frank Knight, Friedrich Hayek, ou Herbert Simon, ou mesmo, em outro campo, Werner Heisenberg (o do princípio da incerteza, lembram-se das aulas de Química e Física?), para dizer alguns dos mais famosos, ou antes deles, pragmatistas como John Dewey.

Expandindo o conceito, a estratégia, como qualquer ação orientada para o alcance de determinado fim, depende do conhecer, como conjugação de razão, sensibilidade e experiência, ou seja, capacidade dos sujeitos em assimilar as sensações vivenciadas em si próprios e no contato com os objetos exteriores, para em seguida interpretar o fluxo de tais experiências e, com isso, conjecturar e escolher caminhos dentro, é lógico, de uma “certa incerteza”, portanto, associando-se a um determinado risco.

Portanto, as práticas de Gestão do Conhecimento e de Aprendizagem Organizacional são fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento da estratégia competitiva da empresa. Mais ainda, pode ser usado para a estratégia de desenvolvimento da organização, independente do aspecto competitivo, tão influenciado pelo jeito “Darwin” de ser. Até porque Sun Tzu já havia dito: “Evitar guerras é muito mais gratificante do que vencer mil batalhas”, ou, “distorcendo livremente” (afinal é um livro de um guerreiro, não de um monge, como às vezes eu tendo a ser): ser sustentável dentro de seu propósito é mais gratificante do que mil invasões no direito e espaço de outros.

Para terminar, como toda ação orientada para determinado fim, cabe saber se este fim é legítimo, o que nos leva a considerar o elemento ético na condução estratégica, assunto bem contemporâneo. Aí que residem os dilemas citados no final do parágrafo anterior. Cabe matar, ou exterminar seu concorrente? Cabe conquistar e saquear um povo, ou gerir de forma predatória uma aquisição? Tudo é permitido à competência, em nome da lógica capitalista? Nada como citar Porter, não ... Potter, quando ouviu o aristotélico Dumbledore dizer: "São as nossas escolhas, Harry, que mostram o que verdadeiramente somos, muito mais do que nossas habilidades".


Américo Ramos , DSc em Administração,
E-mail: americodacostaramos@gmail.com.
http:www.aprendizagemeorganizacao.com.

Nenhum comentário:

Postar um comentário