Hoje é um dia triste para o torcedor de futebol brasileiro, visto que a seleção foi eliminada da Copa. Agora é no Brasil. Que desta vez ganhe em casa e não perca para o Uruguai, que está na semifinal agora, ou para outra seleção.
Final do jogo, procurando “absorver o golpe”, estava ouvindo os comentários da TV. Não esperava nada demais, não queria sair de onde estava imediatamente. Eis que um dos comentaristas, ex-jogador de futebol, foi inquirido a respeito da seleção brasileira ter aprendido com os erros de 2006 porém colecionou outros erros em 2010, até no sentido inverso, no entender deles. Então o ex-jogador manda algo mais ou menos assim (versão livre): “se ficar corrigindo erro não se vai a lugar nenhum, é melhor repensar o que se está fazendo”.
Mais uma vez me lembro do conceito explorado por Argyris e Schon (estes a partir de Bateson), entre outros autores, a respeito da aprendizagem de primeiro e segundo ciclo. No primeiro ciclo, atua-se no erro de rotina, de procedimento, enquanto no segundo ciclo atua-se nos valores e nas premissas.
Este tipo de conceito também se manifesta em outros tantos processos do mundo corporativo, como por exemplo, na gestão da qualidade, com respeito à distinção entre o controle de rotinas e a avaliação para fins de melhoria e aprendizado.
Se trabalharmos com o comentário do ex-jogador e fizermos uma comparação, o erro comum está ligado ao aprendizado de primeiro ciclo, enquanto o repensar está relacionado ao aprendizado de segundo ciclo.
No entanto, acho que os comentários do ex-jogador foram um pouco, talvez, “radicais”. Se o erro a que ele quis se referir foi realmente ligado ao aprendizado de primeiro ciclo, não se pode chegar ao exagero de desprezá-los, pois em caso contrário um procedimento não se estabiliza, seja no futebol, na empresa ou na vida. Entretanto, o contexto sobre o qual ele quis comentar pode ter sido também equivocado, pois a mudança em questão não foi feita em cima de procedimentos antigos, foi uma reavaliação, que tenha sido provada como errada, até, mas foi uma reavaliação. Assim, foi feita uma aprendizagem de segundo ciclo, um repensar. Todavia, nem sempre este tipo de aprendizagem se faz de uma maneira totalmente acertada, até porque a experiência é continua e o aprendizado também. Se o que o comentarista quis dizer, numa outra via, que o repensar tem que ser um repensar mais profundo e sistêmico, abrangendo conseqüências em diversas possibilidades, aí estou de acordo, pois seria uma aprendizagem de segundo ciclo utilizando, me permito dizer, algo como as disciplinas de Peter Senge: maestria pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizado em equipe, abordagem sistêmica. Senge bebeu também da fonte de Argyris e Schon, portanto, tudo bem.
Portanto, dentro da idéia da aprendizagem conceitual fundamentada pela experiência e reflexão investigativa, um repensar contínuo de valores e premissas, de forma sistêmica, é exigido, sem desprezar, contudo, a necessidade de fixar procedimentos comprovadamente acertados, até para não se perder energia com o retorno de “erros já errados”. A aprendizagem faz parte da experiência da pessoa, desde que suas lições possam ser inseridas no cabedal de conhecimento desta, sob a pena desta se mostrar inútil ou inócua (uma maneira mais polida de dizer que “errar é humano e persistir no erro é burrice”).
O erro leva à queda, mas o levantar implica em fundamentar um passo mais seguro até o próximo, mas diferente, erro, para que o ciclo não venha ser simplesmente “vicioso”. O beber, cair e levantar insinua este ciclo vicioso, do não transcender do aprendizado do primeiro para o segundo ciclo. O errar, cair e levantar pode mudar este processo, não que não haja quedas, mas que estas venham a ser menos freqüentes ou, com o tempo, venham a ser só desequilíbrios, e cada vez menores. Depende do protagonista.
Bom retorno seleção, daqui a quatro anos tem mais, e que o ciclo venha a ser virtuoso.
Desesperar jamais!
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