sexta-feira, 11 de março de 2011

O Óleo de Lorenzo (Filmoteca “Aprendizagem e Organização”)




Sinopse: Um garoto levava uma vida normal até que, aos seis anos, ele passa a ter diversos problemas de ordem mental, que são diagnosticados como ALD, uma doença extremamente rara e que provoca uma incurável degeneração no cérebro, levando o paciente à morte em no máximo dois anos. Os pais do menino ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença. Com Susan Sarandon, Nick Nolte e Peter Ustinov.

Deixando de lado possíveis excessos originados da necessidade de adaptação da história para o cinema, trata-se de um notável exemplo de aplicação do conceito de aprendizagem pela experiência, inicialmente em duas nuances: a aprendizagem pela ação, pela solução de problemas, e a aprendizagem como prática, com a formação de comunidades de prática.

No primeiro caso, o problema era gigantesco, e o grande fator motivador para a construção de conhecimento por pessoas, como os pais de Lorenzo, que não eram especialistas técnicos no assunto, muito longe disso, a não ser quanto à vivência. O problema levava a desafios, questionamentos, tal como trabalharam Schon e Argyris (ver postagens anteriores, como esta), a partir de reflexões herdadas de outros pensadores, como Dewey. No segundo, o termo “Comunidades de Prática” designa um grupo de pessoas que se unem em torno de um mesmo tópico ou interesse.

Há de ser ressaltado também, como salientam diversos autores (um texto facilmente disponibilizado foi o elaborado por Lívia Alves Branquinho, neste link) o papel das emoções no direcionamento da aprendizagem, o que fica claro no filme.

Daí tem-se nas organizações as práticas das “metas desafiadoras”, da mobilização de “corações e mentes”, comprometimento etc.. São formas de se buscar uma “aprendizagem forçada” por meio de estímulos de ordem emocional e vivencial. Entram em cena também os famosos “vídeos motivadores”, incluindo uma adaptação de “A Meta”, de Eliyahu M. Goldratt & Jeff Cox, que trata da teoria das restrições. Por trás das questões técnicas havia as emocionais, como a ameaça de fechamento da fábrica, problemas familiares, entre outros (clique aqui para ver a primeira parte do filme).

Então pode ainda ser considerada uma questão quanto à aprendizagem nas organizações. Em ambientes cujas finalidades passam pela competição e pela acumulação, uma organização “aprende” para sua sobrevivência nestes ambientes e para conquistar/manter/desenvolver vantagens competitivas junto a seus públicos de interesse, regulada pelos seus princípios geradores (ou missão, ou razão de ser etc.). Eis aí a motivação, o desafio, o pólo emocional. Em ambientes cujas finalidades não passam pelos atributos já mencionados, a aprendizagem de uma organização é motivada primordialmente pelo desenvolvimento e prática de seus princípios geradores, em que a “competição” seria uma adequação de papel dentro de um conjunto mais amplo de movimentos sociais. Desafios, motivações e emoções continuam sob um novo enfoque.

Seguindo nesta linha de raciocínio, os estudos críticos nas organizações, com as idéias de superação, emancipação, mudança de modelos, dialética, são essencialmente movimentos pró-aprendizagem. Aliás, em outro contexto era o que Paulo Freire já dizia há muito tempo. Mas isto caberia em organizações capitalistas que encampam uma lógica intrínseca de dominação?

Bom, deixo isto em aberto, e aos comentários dos leitores. Voltando ao filme, é uma fonte de reflexões sobre as motivações primordiais e o lócus primordial da aprendizagem como prática social e vivenciada em organizações, sejam famílias, comunidades, ou organizações empresariais.

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