quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Resiliência, sofrimento e aprendizagem.


Fonte: audiolist.org


Américo Ramos.


A Resiliência tem sido uma palavra da moda do mundo corporativo, de uns tempos para cá.

A resiliência cobre vários significados. Por exemplo, da Física,

... se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia (mais, ver aqui).

Na Psicologia,

... como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos, ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc (mais, ver aqui).

E ainda, na Ecologia,,

... capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio após este ter sido rompido por um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação (mais, ver aqui).

No campo das organizações, poderia disponibilizar um número infindável de referências sobre o assunto. Vou citar aqui dois, não necessariamente os mais importantes, mas que dão uma idéia sobre o tema, um do ponto de vista mais empresarial/consultoria, outro do ponto de vista mais acadêmico.

O primeiro vem de Eduardo Carmello, Diretor da Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos, autor do livro "Resiliência: a transformação como ferramenta para construir empresas de valor". Ele resgata a origem etimológica do termo, que significa "impulsionar novamente para", ou poderia eu dizer, um resgate energético, buscando forças sempre que for necessário. Além do seu site e livro, vale também conhecer uma entrevista dele a Catho (ver aqui).

O segundo trata de uma tese de Doutorado em Administração, pela FGV/EAESP, de autoria de Fernando Job, intitulada "Os Sentidos do Trabalho e a Importância da Resiliência nas Organizações". Algo diverso de Carmello, ele aprofunda mais o sentido de sofrimento associado à resiliência, em particular, o relacionado ao trabalho nas Organizações. Um artigo prévio à tese, bem mais resumido, encontra-se aqui.

Apesar das controvérsias, caso se leia os textos acima, resiliência e sofrimentoparecem convergir. Entretanto, para buscar reunir os argumentos, a questão da resiliência está mais ligada ao sofrimento ativo, ou ver o sofrimento como agente de mudança e, em níveis mais adiantados, para prevê-la. É ver o sofrimento, ou a “perturbação no equilíbrio”, o eufemismo que se queira dar, como algo que faça parte da vida, até mesmo algo que se possa agradecer por nos ajudar a crescer, seja individual ou coletivamente, em caso de grupos/organizações. Algumas doutrinas ou religiões, inclusive, consideram o sofrimento, de certa forma, sob este prisma, ainda que nem sempre de maneira tão direta. E ao ver o sofrimento/perturbação/desafio como algo natural na vida, sua superação e convivência ativa com a ajuda da resiliência como capacidade humana só pode se dar com uma abertura constante para a ... aprendizagem contínua, consolidando, melhorando e transformando padrões, hábitos e crenças.

Diz-se que se aprende pelo amor ou pela dor. Se usarmos o jargão corporativo, pela “conscientização valorativa do ser humano”, ou pelo “sistema de incentivos e conseqüências”. O primeiro opera-se no plano das idéias, o segundo no plano das sensações, usando, com algum grau de liberdade, as formulações do grande Platão.


Sendo agora um pouco mais aristotélico, chegar diretamente pelo plano das idéias fica um pouco, como dizer, “ideal” (desculpe-me o trocadilho), daí ter-se a referência sensível, adquirida pela experiência, ainda que sujeita a uma série de variações segundo o sujeito e o contexto, que não daria uma visão absoluta ou “matemática” tão cara a Platão (afinal, na sua academia havia uma inscrição de que não entrasse aquele que não soubesse Geometria).


Bom, em termos mais diretos, aprender pelo amor ou pela conscientização é o ideal, mas na vida cotidiana (tomando um termo bastante utilizado por Berger e Luckman) aprende-se mesmo pela experiência, não sem, na maioria das vezes, sem alguma dose, em maior ou menor grau, de sofrimento, de dor. E se isso passa a ser condição geral, a atitude a ser adotada no sentido de melhor aproveitar e atrair aprendizagem é a de resiliência, em que a parte dita ruim do sofrimento, que se não administrada leva a estresse, a angústia, à perda da criatividade e da capacidade de agir, para não dizer de conseqüências piores e sabidas, pode ser depurada, transformada, essencializada para ser um alavancador de crescimento, de evolução, de conhecimento, de superação.


Portanto, aprendizagem e resiliência são atributos que se interagem fortemente no sentido da mudança e do convívio com a experiência diária, os prazeres e sofrimentos nela implícitos (Aristóteles de novo), até mesmo para que as idéias e a conscientização do que aprendeu possam ser mais rapidamente internalizadas e, assim, serem usadas como reserva potencial de ações e decisões futuras, seja no plano pessoal, seja nas organizações.


Américo Ramos , DSc em Administração.
E-mail: americodacostaramos@gmail.com.
Visite o
blog Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).

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