segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Competências ou Compenitências?

Dentro do mundo corporativo, o jargão competências assume, com relação aos indivíduos nas organizações, o significado de converter suas qualificações em efetivo desempenho.
Livros, artigos, notícias e programas corporativos sobre o assunto tornam-se lugar comum.
No entanto, nota-se que a aplicação do conceito de competências individuais a programas de Gestão de Pessoas ou Gestão do Conhecimento nem sempre faz um caminho suave e sem grandes solavancos do discurso teórico à prática. É comum ter um programa fantástico que é interrompido, desvirtuado, empobrecido ou ainda hibridizado aos velhos e indefectíveis planos de cargo, paradigmas arraigados de executivos, profissionais de RH e sindicalistas.
Falando de sindicalistas, é uma crítica destes associar aos programas de Gestão de Competências a legitimação de disfunções, a precarização do trabalho, o excesso de atividades, entre outros, na medida em que todos terão, via suas competências, que fazer mais por menos, para satisfazer a mais valia que o velho Marx tanto apregoava. O lado da construção de conhecimento, da aprendizagem, da possibilidade de crescer profissionalmente, fica obscurecido pelo fardo de ser cada vez mais exigido em um contexto competitivo selvagem, em que ou se está dentro, ou se está fora.
Neste caso, as competências tornam-se compenitências.
Como compenitências, os empregados recebem os programas de RH, algo que vai dar “trabalho” de fazer, depois “muito mais trabalho para executar”, incrementando sobremaneira a resistência.
Competência se produz pela integração entre qualificação prévia, aptidão para solucionar problemas ofertados pela experiência diária, e capacidade de interação fomentando a aprendizagem e disseminando o conhecimento. Os programas correntes em geral esbarram na primeira parte: quando falam em atitudes ou comportamentos, termina por produzir um artificialismo correspondente a falta de entendimento de que tais condições se realizam no contexto interativo.
Frente a artificialismos que atravancam o processo de aprendizado, “formar” competências torna-se um sacrifício sem sentido. O profissional de RH vira um padre que, ao ouvir a “descrição do processo” do “pecador”, ministra as penitências padrões, ou as compenitências padrões, no alto de suas escalas, tabelas e descrições de comportamentos.
Fica, então, a advertência: estamos incrementando competências em um ambiente de aprendizagem ou apenas compenitências em um ambiente de controle?

Américo Ramos é Doutor em Administração, professor universitário, conferencista e consultor.
Visite o blog “Aprendizagem e Organização” (http:www.aprendizagemeorganizacao.com).









Nenhum comentário:

Postar um comentário