domingo, 8 de janeiro de 2012

Consultar e ser consultado




Américo Ramos




Hoje passou na Rede Globo uma reprise do filme "Hitch", um conselheiro amoroso bem sucedido, que faz "milagres" com "clientes difíceis', mas que não consegue aplicar as regras à seu próprio dilema amoroso.

Isso remete a uma série de situações padrão, como "em casa de ferreiro o espeto é de pau". Mas quem vive no mundo corporativo já presenciou e participou, como cliente ou fornecedor de serviço, de situações como esta, daquilo que o consultor ou prestador de serviços prescreve ele mesmo não aplica para sua própria gestão interna. O RH das empresas, ou outras funções corporativas, podem ser um exemplo disto, segundo dizem.

Falam isso também dos psicólogos, médicos e outros profissionais, já ouvi destes inclusive que é melhor ouvir um colega quando trata-se de atender o seu problema.

Talvez um motivo seja o fato de estarmos bloqueados por nossas próprias crenças quando se trata de atacar nossos próprios problemas, o que tem sido objeto de uma série de estudos, uma das mais recentes a de Daniel Kahneman em seu livro "Thinking, Fast and Slow" (Pensando, rápido e devagar, sem tradução ainda para o português). Ele indica que nas nossas decisões enxergamos somente o que queremos e que o observador neutro "tem mais probabilidade de detectar erros do que nós". O Valor Econômico publicou um artigo sobre o livro e que tem alguns outros pontos bastante polêmicos, que podem ser tratados em futuras postagens (leia aqui).

Desta forma, por um lado, seríamos "condenados" a precisar do outro, reforçando os benefícios de bons "feedbacks", tão propagados e nem tanto praticados de fato no dia-a-dia organizacional. Por outro, seriam liberados dos aspirantes à consultoria medos ou pudores do tipo "não resolvo o meu problema como posso resolver a dos outros"?

Dentro de uma visão de aprendizagem como uma prática social, estas questões não são conflituosas. Aprendemos com o outro, mas fundamentalmente o processo de aprendizagem individual é comandada pelo indivíduo, comandar a aprendizagem individual não quer dizer fazer tudo sozinho, mas a decisão deve ser sempre dele. Além disso, há vários excelentes professores e consultores que, por um lado, amam o que fazem e querem, em paralelo com o atendimento de suas necessidades materiais, ajudar os demais naquilo que está na medida de sua capacidade de contribuição; por outro, contudo, também tem as suas dificuldades interiores, o que é normalíssimo para qualquer mortal e que não deve desestimular ninguém, pelo contrário irá ajudá-los. Cada um tem o seu desafio mas, além disso, suas capacidades, algo tão velho quanto qualquer conto de fadas ao pôr príncipes com espadas, escudos e outros poderes contra dragões e outros bichos.

Portanto, a quem interessar possa, consultem e sejam consultados. Mas, estejam sempre atentos às lições aprendidas.

Américo da Costa Ramos Filho, DSc. em Administração
Serviços, Ensino e Inteligência em Organizações
E-mail: americodacostaramos@gmail.com
www.aprendizagemeorganizacao.com



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